Páginas

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Gladston jr: De onde vem nossa curiosidade de conhecer?

Gladston jr


De onde vem nossa curiosidade de conhecer?
4 May 2011, 6:56 pm




Costuma-se pensar que a aprendizagem e o conhecimento se adquirem apenas e simplesmente pela inteligência e concentração. Alguém pode dizer: "Fulano ficou horas estudando, deve estar sabendo tudo", como se ao ler um texto a pessoa necessariamente conseguisse apreender e assimilar o conteúdo ali presente. E, além de tudo, como se isso só dependesse da capacidade intelectual.
Muitos equívocos são cometidos, principalmente, quando se fazem diagnósticos de aprendizagem em crianças e adolescentes, pelo fato de haver uma redução desse processo a uma visão organicista. É preciso entender que o ser humano é um ser cultural e possuidor de um inconsciente. A nossa vida mental é determinada por processos psíquicos inconscientes complexos relacionados às pulsões de vida e de morte, presentes em todos nós. As pulsões de vida estão associadas à sexualidade, antes de tudo como energia que move o ser humano.
Freud explorou muito bem essa questão e mostrou como elementos primitivos da sexualidade interferem e determinam, então, certas necessidades. É bom esclarecer, bem sinteticamente, que quando se fala de sexualidade não se trata apenas dos órgãos sexuais e da atividade genital. Fala-se aqui do desenvolvimento dessa energia de vida, que tem seu início desde o nascimento, associada a diversas partes do corpo, começando pela boca (oralidade), ânus (anal) e os órgãos genitais. Todo o corpo é sexualizado, revestido por essa energia e – o mais importante – essa condição possui uma representação na mente.
A pulsão oral, por exemplo, deriva desejos de devorar e incorporar, ao passo que a pulsão anal, de segurar, possuir, manipular, controlar a mãe, que é o primeiro objeto de relação da criança e que depois se estenderá para tudo o mais, como as outras relações, o conhecimento, o trabalho etc.


Freud disse que todo ato de conhecer envolve algum domínio sobre o objeto e isso está ligado à sexualidade e ao desejo de saber sobre nossa origem. "De onde viemos?" e "Para onde vamos?" seriam as perguntas essenciais que carregamos como mistérios que falam do sentido da vida e por isso mesmo não possuem respostas plenas, mantendo assim, indefinidamente, uma busca contínua e sem fim.
Melanie Klein, também psicanalista, observou crianças com inibições intelectuais e desenvolveu a ideia de que isso estaria relacionado a uma dificuldade de tolerar esses impulsos infantis de devorar, incorporar e penetrar, que em geral provocam muitas angústias e medos pela violência que possuem. Isso prejudica a possibilidade de transformar esses impulsos em curiosidade e desejo de saber. Muitas vezes, então, perceber numa criança ou em um jovem uma ausência de interesse e curiosidade para com os estudos pode indicar a presença de conflitos psíquicos que não puderam ser absorvidos, transformados e superados. É preciso ajudá-los, então, a tomar consciência sobre esses processos internos mentais para que eles se libertem da inibição intelectual e possam, assim, brincar, aprender e criar. Klein ainda acrescenta que essas atividades trazem à pessoa a possibilidade de reparar e de dar aos seus sentimentos caminhos mais criativos.
Bion, outro psicanalista, dizia que para sermos capazes de aprender precisamos manter o problema na mente, suportando ficar com o conflito para que esse seja conhecido. Isso porque nossa tendência é expulsar aquilo que provoca angústia. Ou negamos ou projetamos em algo ou alguém, perdendo a oportunidade de aprendermos com a experiência.
Nossa curiosidade de conhecer tem suas origens na nossa vida inicial e nas nossas primeiras relações. O bebê aprende com a mãe como se faz para tolerar frustrações, desenvolvendo, assim, o pensamento, a memória, a simbolização. Se a mãe acolhe as angústias e necessidades de seu filho, ela o ajuda a construir os recursos para o seu desenvolvimento.

Winnicott, psicanalista, também fala disso, quando enfatiza que a mãe proporciona ao bebê a ilusão de que ele é o criador das coisas ao seu redor, e a confiança inicial sobre isso é fundamental para que ele aprenda a suportar as frustrações mais tarde e encontre alternativas criativas para seus problemas.
Um bom professor, então, deve considerar que, assim como ele, seu aluno possui um inconsciente com conflitos que precisam ser transformados em curiosidade e desejo de saber. Cabe a ele, consciente disso, despertar seu desejo de aprender.


You are receiving this email because you subscribed to this feed at blogtrottr.com.

If you no longer wish to receive these emails, you can unsubscribe from this feed.

Nenhum comentário:

Postar um comentário